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Com ciência e tecnologia, agro brasileiro avança na redução dos impactos ambientais

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O Brasil assumiu diversos compromissos durante a 26ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), realizada em novembro do ano passado, em especial quanto à redução das emissões dos gases associados ao efeito estufa. E o agronegócio, um dos setores econômicos mais importantes para o país, desempenha um papel direto no alcance dessas metas.

Alvo de pesadas críticas em relação a impactos ambientais negativos gerados pela atividade, o agro brasileiro é um dos líderes mundiais em preservação da vegetação nativa e tem colocado em prática diversas tecnologias e modelos de produção que tornam o setor cada vez mais sustentável.

A ciência e a tecnologia levadas ao campo por instituições como a Embrapa e institutos de pesquisa, universidades com foco em Ciências Agrárias e outras organizações ligadas à pesquisa agropecuária são o principal motor de fomento a práticas sustentáveis no agro brasileiro. Esta rede de entidades, vinculadas ao Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, leva conhecimento e modelos de produção sustentáveis e de baixo custo tecnológico para pequenos, médios e grandes produtores do país.

Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que o uso cada vez maior de novas tecnologias na agricultura e na pecuária, a exemplo dos sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta (ILPF), do plantio direto, da fixação biológica de nitrogênio, do uso de bioinsumos incluindo controle biológico de pragas, entre outras – que estão sendo colocadas em prática no setor há anos e permanecem em estudo e aprimoramento –colocam o país em vantagem na persecução das metas internacionais.

A lentidão nas regularizações fundiárias e ambientais e a carência de políticas públicas relacionadas ao setor, bem como a dificuldade de acesso a crédito por parte de pequenos produtores para obterem novas tecnologias, entretanto, são apontados como empecilhos ao cumprimento dos objetivos.

 

Modelos sustentáveis no agro brasileiro

A descarbonização da agropecuária é o alvo número um que o setor tem buscado quando o assunto é redução de impactos ambientais, e a fermentação entérica – processo digestivo que ocorre em animais como bois, ovelhas e cabras – é um dos principais componentes da liberação dos gases do efeito estufa na atividade. Como o Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo (com 218 milhões de animais segundo dados de 2020 do IBGE), o país tem um desafio maior quanto à redução desses gases.

Para dar conta da descarbonização, pesquisadores têm desenvolvido tecnologias que envolvem desde mudanças na alimentação dos rebanhos até o desenvolvimento de sistemas integrados que buscam o equilíbrio nas emissões de carbono. Um desses sistemas, que já está presente em 10% das fazendas de gado de corte do país, é chamado Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF).

Por meio desse modelo, que integra produção agrícola, criação de bovinos e plantação de árvores em uma mesma área de modo que haja benefício mútuo para todas as atividades, há o aumento da produtividade utilizando o mesmo espaço. Isso não apenas torna desnecessária a abertura de novas áreas para lavoura ou pecuária, como também contribui para a mitigação da emissão de gases principalmente devido ao cultivo de árvores junto ao rebanho. As árvores também contribuem para o bem-estar animal por causa das áreas de sombra permanentes à disposição.

“Quando você integra agricultura e a pecuária no mesmo local, colhe a soja na primeira safra, e na segunda faz a safra de capim. Aí você tem um capim de alta qualidade e alto valor nutritivo na pior época do ano, que é o período da seca. Isso permite maior peso dos animais e uma maior taxa de lotação, que é a quantidade de animais na mesma área”, diz o produtor rural Daniel Pereira Wolf, que administra uma propriedade em Nova Canaã do Norte, no Mato Grosso. Sua fazenda foi a primeira no bioma amazônico a receber o ILPF.

O sistema também foca na qualidade da alimentação dos animais, a fim de reduzir a fermentação (e, consequentemente, reduzir a emissão do metano) e de melhorar o desenvolvimento dos animais.

A implementação do ILPF é positiva para o meio ambiente e para o produtor, que obtém ganhos em produtividade. “Quando você promove essa integração, aumenta a produtividade através da taxa de lotação [número de animais por área] da fazenda. Já chegamos a produzir 84 arrobas por hectare em 225 dias, enquanto a média nacional é de quatro arrobas em 365 dias”, aponta Wolf.

Conforme explica Guy de Capdeville, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, os sistemas integrados promovem uma compensação entre os gases liberados e absorvidos. “A partir desses modelos que o Brasil vem adotando para a criação do gado, intensificando áreas degradadas de pastagens e trazendo pastagens mais produtivas com maior teor de proteínas e de compostos energéticos, consegue-se fixar o CO2 da atmosfera com as plantas e as árvores plantadas, o que compensa a emissão de carbono pelo gado”, afirma.

 

Tecnologia para o campo

O aumento da produtividade no campo é um dos principais elementos que contribuem para a redução do desmatamento. De acordo com Capdeville, o uso de tecnologias sustentáveis na agricultura tem sido responsável pela economia de terras de cultivo da ordem de milhões de hectares – efeito chamado de “poupa-terra”.

Apenas no caso da soja, o uso dessas tecnologias gerou uma economia de 71 milhões de hectares de áreas plantadas, o equivalente à soma dos territórios de Irlanda e França. “Adotando as tecnologias que tínhamos na década de 1970, para produzir os volumes de soja que produzimos hoje precisaríamos de mais 70 milhões de hectares de terra, ou seja, 195% a mais do que precisamos hoje, com as tecnologias atuais”, diz Capdeville. Segundo o diretor da Embrapa, a intensificação da produção por área poupa a necessidade de expandir mais áreas para a produção agropecuária.

Quanto à cultura do algodão, em quatro décadas a produção cresceu mais de três vezes – aumento de 1,2 milhão para 4,3 milhões de toneladas entre 1976 e 2019 – enquanto a área plantada diminuiu a menos da metade, de 4 milhões de hectares para 1,7 milhão. Somente nessa cultura, a tecnologia na produção evitou o uso de 18,5 milhões de hectares, o equivalente aos territórios de Portugal e Hungria.

“Temos esse mesmo impacto acontecendo na fruticultura, na área de suínos e aves, na área do café. A adoção da tecnologia e da ciência na agropecuária poupa volumes de área que precisaríamos para plantar e produzir os volumes que produzimos hoje”, reforça Capdeville.

Já a existência das queimadas ilegais, responsáveis pelo desmatamento na Amazônia, é apontada pela engenheira agrônoma e presidente da Associação Brasileira do Agronegócio em Ribeirão Preto (Abag/RP), Mônika Bergamaschi, como crime ambiental repudiado pelos produtores rurais. Tais crimes prejudicam a imagem do Brasil, o que afeta negativamente a exportação da produção agropecuária.

“O desmatamento na Amazônia existe, e é ilegal. O agro não defende nenhuma ilegalidade. Tem que ir lá, fiscalizar, multar, pôr na cadeia quem está fazendo errado, seja agricultor, grileiro, quem está fazendo mineração, não importa. O setor não defende isso. É caso de polícia”, declara Mônika.

 

Papel do poder público

Novas mudanças relacionadas a melhoramentos genéticos de plantas, à produção e ao uso de biocombustíveis e biofertilizantes e à redução de defensivos agrícolas sintéticos são evoluções em andamento no setor e permearão o caminho que o Brasil trilhará até 2030, período em que as metas assumidas na COP-26 devem estar atingidas.

No entanto, conforme explica Mônika, apesar de o agro brasileiro passar por evoluções relacionadas à sustentabilidade, há políticas públicas que precisam ser implementadas para que os produtores tenham melhores condições de efetivar as metas. “Uma coisa é o que se discute nas mesas de negociação, que são parâmetros de governo, outra é aquilo que será, de fato, feito, que é pelo setor privado. Condição temos, mas há muitas coisas que dependem dos governos e do Congresso, e que o agro não pode fazer sozinho”, explica a engenheira agrônoma.

Como exemplo, ela cita a necessidade de acelerar o andamento dos processos de regularizações fundiárias e ambientais – sem precarização desses processos, enfatiza; de efetivar negociações internacionais com foco na abertura de mercados; e de promover melhorias na infraestrutura para escoamento das cargas.

“A soja nasce no Mato Grosso, no Paraná, no Mato Grosso do Sul, por exemplo, mas para ser escoada nós não temos boa cabotagem, boas ferrovias, então ela vai por estrada, o que consome grande quantidade de diesel. Sobre abertura de mercados, estamos fora dos grandes acordos plurais e não fizemos acordos bilaterais como outros países fizeram”, diz. “Para falar sobre essas metas, precisamos de um desenvolvimento de país. Dá para fazer, podemos produzir mais e melhor. Mas precisamos falar sobre o conjunto”, prossegue.

 

Agro brasileiro figura entre os que mais preservam

De acordo com um amplo levantamento da Nasa, agência do governo norte-americano, a partir de mapeamento por satélite e cálculo das áreas cultivadas em todo planeta, enquanto a maioria dos países utiliza entre 20 e 30% do seu território com agricultura, o Brasil utiliza apenas 7,6%. Quando se estende à agropecuária, 60% do território europeu é utilizado para as atividades. A Dinamarca, por exemplo, utiliza 76,8%; a Irlanda, 74,7%; o Reino Unido, 63,9%; e a Alemanha, 56,9%, revela o estudo publicado em 2017.

Para Mônika, a descarbonização relacionada ao agro precisa ser tratada com um caminho de longo prazo e deve haver razoabilidade na definição de cada um dos critérios determinados entre os países. “É preciso discutir com todo o mundo como tudo será calculado. Não dá para outros países passarem uma regra e começar a contar a partir de agora, depois que já desmataram tudo o que eles tinham, depois que emitiram enormes quantidades de gases. Não dá para ser assim; tem que ser a mesma moeda para todos”.

Para o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, além da alta faixa de vegetação preservada, itens como a rígida legislação ambiental que os produtores brasileiros devem cumprir – em algumas regiões do país, apenas 20% da propriedade pode ser utilizada, devendo o produtor manter 80% de preservação – colocam o país num patamar de sustentabilidade diferenciado em relação ao mundo.

“Nós só recebemos críticas vindas do setor produtivo internacional, que compete conosco. As agências científicas, instituições de pesquisa e universidades internacionais conhecem nossa produção e entendem que é altamente sustentável”, afirma Capdeville.

“Mesmo com toda a rigidez exigida no Brasil, nosso produtor entende a necessidade de fazer isso, adota e está abraçando. Há um movimento muito grande na comunidade científica em ajudar o Brasil a cumprir esses compromissos e tenho certeza absoluta de que nós, mais do que qualquer país do mundo, bateremos essas metas”, ressalta.

 

Fonte: Abagrp